O término do jejum

Vasco 2x1 Botafogo (Campeonato Carioca 1970)

Embora o jogo pela penúltima rodada do returno do Campeonato Carioca de 1970 entre Vasco e Botafogo tivesse aspecto de decisão apenas para o Vasco, esta partida foi encarada pelos jogadores vascaínos (JPEG, 61k) como um autêntico tira-teima, pois os torcedores dos demais times achavam que o Botafogo poderia adiar a conquista antecipada do título, que estava entre o Fluminense e o próprio Vasco. Em caso de vitória, o Vasco venceria o campeonato sem depender do resultado da sua partida contra o Flu na última rodada.

E foi com esse espírito que os jogadores entraram em campo na noite de quinta-feira, 17 de setembro de 1970, no Maracanã, na esperança de realizar um sonho que era esperado pelos torcedores há quase doze anos. O último título carioca havia sido o super-super de 1958.

Para o Botafogo, já afastado da disputa, restava o consolo de tentar estragar ou adiar a festa que a torcida do Vasco havia preparado para aquela noite. Mas isso não foi possível, pois a determinação e a vontade de vencer do time dirigido pelo estrategista Tim superou tudo.

O Vasco entrava desfalcado do grande goleiro Andrada, que havia sido uma garantia durante todo o campeonato. No seu lugar, o desconhecido Élcio, que nunca havia jogado pelo time principal. Isso não deixava de preocupar a torcida cruzmatina, que todavia compareceu e foi praticamente a única responsável pelo público de 59.110 pagantes, com renda de CR$254.512,50. (Ingresso: JPEG, 19k)

Depois de um início nervoso e meio inseguro, o Vasco foi aos poucos tomando conta do jogo e impondo o seu ritmo. A cautela era necessária e todos sabiam disto, pois o Botafogo era um franco atirador e um adversário bastante perigoso. E aos 32 minutos o caminho do título de 1970 começou a ficar mais próximo. Silva recebeu a bola na entrada da área, dominou e tentou o drible sobre Moisés, que o derrubou na meia-lua da área. Posição quase idêntica a da qual Gilson Nunes havia feito um gol de falta contra o América no domingo anterior. O próprio Gilson Nunes se encarregou da cobrança e o fez novamente com perfeição: bateu alto e forte, no ângulo, sem chance alguma para Ubirajara (RA, 115k).

Com a vantagem de 1 a 0, o Vasco voltou bem mais tranquilo e confiante para o segundo tempo. Com garra e decisão o time foi para a frente, disposto a decidir a partida o mais cedo possível. Isto aconteceu exatamente aos 13 minutos. Valfrido recebeu um excelente passe de Silva e quando todos pensavam que ele iria devolver a bola ao ponta-de-lança, ele deu uma virada sensacional (JPEG, 23k e RA, 137k). A bola ainda resvalou em Moisés e deslocou inteiramente o goleiro Ubirajara, que já havia começado a saltar para o lado esquerdo.

Sentindo que a partida estava ganha - na arquibancada a torcida já começara a cantar o "tá chegando a hora" - o Vasco começou a segurar o jogo, tocando a bola e deixando o tempo passar, já que o Botafogo não conseguia ameaçar o gol de Élcio.

Somente aos 39 minutos é que o Botafogo diminuiu a diferença, com um gol de Ferretti, de cabeça, aproveitando um cruzamento sobre a área. Após o gol, não houve tempo para mais nada e o que se ouviu até o final foi a galera vascaína cantando sem parar: "casaca, casaca, Vasco, Vasco". Era um sonho de doze anos que virava realidade.

O título foi ganho por Élcio; Fidélis, Moacir, Renê e Eberval; Alcir e Buglê; Luiz Carlos (Ademir), Valfrido, Silva e Gilson Nunes. O Botafogo jogou com Ubirajara; Moreira, Moisés, Leônidas e Valtencir (Botinha); Nei e Careca; Zequinha, Nílson (Ferretti), Jairzinho e Paulo César. O juiz foi José Aldo Pereira, auxiliado por Eduardo Meneses e Eduardo Monteiro.