História
1953-1970

Os títulos e as invencibilidades internacionais do Vasco

O ano de 1953 ficou marcado por ser o último do extraordinário período de conquistas do Expresso da Vitória. No final de janeiro, o Vasco conquistou o Quadrangular Internacional do Rio, competição que contou com as participações do Boca Juniors e do Racing da Argentina e do Flamengo. No último jogo da competição, o Vasco goleou o rival por 4x1 e ficou com o título. Em abril, o Vasco viajou para Santiago para disputar o Torneio Internacional do Chile, um torneio triangular. O Vasco derrotou o Milionários, da Colômbia, e o anfitrião Colo Colo, conquistando o título.

E em julho, o Vasco venceu, de maneira invicta, o Octogonal Internacional Rivadavia Corrêa Meyer, disputado no Rio de Janeiro e em São Paulo. Esse torneio teve caráter intercontinental, com a participação das fortes equipes européias do Hibernian, campeão escocês, e do Sporting, campeão português, e do Olímpia, campeão do Paraguai, país que havia acabado de se sagrar campeão sul-americano, além de Botafogo, Fluminense, Corinthians e São Paulo. A competição foi disputada durante praticamente todo o mês de junho e terminou no dia 4 de julho, quando o Vasco venceu por 2x1 o São Paulo na final. Foi assim fechada com chave de ouro a gloriosa época do Expresso da Vitória, já contando com alguns elementos mais jovens que teriam papel destacado num futuro próximo, como Bellini, Sabará, Vavá e Pinga.

Finalmente, vale ressaltar que, na primeira metade da década de 1950, o Vasco alcançou dois recordes de invencibilidade internacional. O primeiro, de 29 partidas invictas disputadas no exterior. O segundo, de 34 jogos invictos contra equipes de outros países. Essas invencibilidades terminaram durante uma excursão à América Central em 1954. Até hoje, esses recordes não foram igualados por nenhum clube brasileiro.

A renovação do plantel e uma nova tática

Depois da era do Expresso da Vitória, o Vasco tratou de formar mais um time vencedor, uma mescla de jogadores contratados, como Paulinho de Almeida, Bellini, Válter Marciano, Pinga e o paraguaio Parodi, e outros feitos em casa ou trazidos das divisões de base de outros clubes, como Orlando, Coronel, Sabará e Vavá. Em 1955, do mítico Expresso da Vitória só permaneciam no elenco Maneca, Dejair e o grande artilheiro Ademir. Ademir se despediria do futebol no ano seguinte, após a volta do Vasco de uma excursão à Europa.

Flávio Costa voltou à direção da equipe em 1953 com a missão de comandar a transição e levar o time a novas conquistas. Porém, com campanhas de altos e baixos nos campeonatos cariocas, as conquistas almejadas não vieram. No campeonato carioca de 1955, que se alongou pelos primeiros meses de 1956, o Vasco liderou por várias rodadas e terminou por conquistar o maior número de pontos. Todavia, a fórmula da competição era a de três turnos separados e o Vasco não conseguiu vencer nenhum deles. Após uma derrota para o Fluminense, que alijou o clube da disputa do terceiro turno, Flávio Costa foi demitido. Logo após o término do campeonato, foi contratado o estrategista Martim Francisco, que por um triz não levara o América ao título. Anos antes, com o Vila Nova, em Minas Gerais, Martim havia dado forma definitiva ao sistema 4-2-4. O técnico iria utilizar esse sistema de forma mortífera no Vasco.

Com o time renovado, o Vasco voltou a conquistar um título carioca em 1956. O sabor especial ficou por conta de, numa repetição do que ocorrera em 1945, ter impedido o tetra do Flamengo, o favorito ao título antes do início da competição. A conquista vascaína veio por antecipação na penúltima rodada, devido a uma combinação de resultados: A vitória de virada sobre a perigosa equipe do Bangu por 2 a 1, com dois gols de Vavá, e a derrota do Flamengo para o Botafogo no dia seguinte.

Títulos internacionais do Vasco nos anos 50

Na década de 1950, o Vasco foi um dos clube brasileiros mais convidados a disputar torneios no exterior. Depois dos três títulos de 1953 que encerraram a época do Expresso da Vitória, o Vasco alcançou mais títulos internacionais em 1957, com as conquistas dos Torneios de Lima e Santiago, na América do Sul, e do Torneio de Paris e da Taça Teresa Herrera, durante uma excursão arrasadora à Europa.

Nessa excursão, além de vencer o todo-poderoso Real Madrid de Di Stéfano e outros craques, bicampeão europeu na época, por 4 a 3, na final do Torneio de Paris, o Vasco obteve goleadas empolgantes sobre o Atlético Bilbao por 4 a 2, que lhe valeu a Taça Teresa Herrera, sobre o Barcelona por 7 a 2 e sobre o Benfica por 5 a 2. O técnico Martim Francisco pegou as equipes estrangeiras totalmente desprevenidas com a sua tática, que utilizava a descida dos homens de meio-campo para as conclusões como fator surpresa. Os apoiadores Laerte e Válter Marciano acabaram entre os principais artilheiros da excursão. Válter, inclusive, foi imediatamente contratado pelo Valência, mas pouco mais de dois anos depois faleceu tragicamente num acidente automobilístico na Espanha.

1958, um ano de grandes conquistas

Em 1958, o Vasco forneceu três jogadores á seleção campeã mundial, Bellini, Orlando e Vavá. Naquele ano glorioso, o Vasco conseguiu finalmente conquistar pela primeira vez o Torneio Rio-São Paulo, título do qual havia chegado muito perto em outras oportunidades durante a década, e venceu o campeonato carioca de forma particularmente emocionante. Faltando duas rodadas, o Vasco levava quatro pontos de vantagem sobre Flamengo e Botafogo, mas perdeu as duas últimas partidas exatamente para estes adversários. Foi então necessário um supercampeonato entre os três, que também terminou empatado, sendo então disputado um super-supercampeonato, finalmente vencido pelo Vasco, já depois de iniciado o ano de 1959.

O Vasco contava com a melhor defesa do país e que todo mundo sabia de cor: Paulinho, Bellini, Orlando e Coronel. A defender o arco, estava de volta o veterano Barbosa, considerado por muitos o melhor goleiro da história do clube. Mais uma vez o Vasco tinha um grande número de atacantes de categoria no seu plantel e se deu ao luxo de vender o campeão mundial Vavá para o Atlético Madrid, ainda no início do campeonato. Mas ficavam Almir, Delém, Wilson Moreira, Roberto Pinto e Valdemar, que se revezaram no time titular nas posições do miolo do ataque, além dos pontas Sabará e Pinga, em ótima forma.

A escassez de craques na década de 1960

Almir tornou-se o grande ídolo vascaíno, mas acabou se envolvendo numa série de episódios que deram-lhe a fama de jogador violento. Primeiro, foi o pivô de um enorme sururu no jogo Brasil 3x1 Uruguai, no Campeonato Sul-Americano de 1959 em Buenos Aires. Cinco meses depois, numa partida contra o América, houve um lance de bola dividida com o jogador Hélio, que saiu com a perna fraturada e nunca mais voltou a jogar. Apesar disso, a categoria do "Pernambuquinho" era incontestável, chegando a ser chamado de "Pelé Branco". Finalmente, em março de 1960, o Vasco teve que o liberar mediante uma proposta irrecusável por parte do Corinthians.

O Vasco também não resistiu a outras propostas que acabaram tirando do clube as suas principais estrelas. Para reforcar o time, uma grande quantidade de jogadores "bonzinhos" ia sendo contratada e, na medida em que iam fracassando, eram substituídos por mais "bonzinhos". Por outro lado, a qualidade da prata da casa, que durante décadas havia sido constituída por craques em profusão, começou a decair, e o clube entrou numa longa fase negativa, agravada pela tensão política na administração.

Durante a década de 1960 os melhores jogadores projetados pelo clube foram os zagueiros Brito e Fontana, que fariam parte da seleção tricampeã mundial em 1970 após deixarem o clube no ano anterior, e o atacante Célio, que, depois de chegar a ser testado na seleção, foi vendido para o Nacional de Montevidéu, onde tornou-se um ídolo. Poucos craques para quem estava acostumado a tanta fartura.

Um cemitério de técnicos

Em 1961, o Vasco estava na luta pelo título estadual, mas, dependendo de uma simples vitória sobre o Olaria dentro de São Januário para manter suas chances, acabou perdendo por 3 a 2, resultado que causaria impacto na campanha eleitoral, que fervia. Técnicos passaram a ser contratados e demitidos em pouco tempo, vítimas da impaciência da diretoria e da torcida. Formou-se a lenda de que o Vasco era um cemitério de técnicos.

De 1960 a 1969, o Vasco trocou de técnico nada menos do que 22 vezes. Durante este período, o único que permaneceu no cargo por duas temporadas foi Zezé Moreira, quando o Vasco conquistou seus únicos títulos significativos da década: A primeira Taça Guanabara, torneio criado em 1965 para apontar o concorrente carioca na Taça Brasil, e o torneio Rio-São Paulo em 1966, no qual terminou campeão empatado com Botafogo, Santos e Corinthians (não houve decisão). Na Taça Brasil de 1965, o Vasco perdeu a final para o Santos, que naquela altura conquistava o pentacampeonato da competição.

Depois de Zezé Moreira, o outro técnico que levou o time a boas campanhas foi Paulinho de Almeida, ex-lateral-direito do clube. Em 1968, sob sua direção, o Vasco foi vice-campeão carioca e vice do Torneio Roberto Gomes Pedrosa, empatado com Palmeiras e Internacional. Boas campanhas, porém faltou o título ansiado por todos em São Januário.

O fim da espera pelo título carioca

O Vasco sempre foi um clube agitado por crises políticas, mas as dos anos 60 realmente abalavam o clube. Uma das maiores crises da história do Vasco aconteceu em 1969, com direito a cassação de presidente, muros pichados, coisa realmente séria. Entretanto, no ano seguinte, com a política interna pacificada, voltaria ao seu lugar de honra no futebol carioca, com o time dirigido pelo velho e sábio Tim. No campo, os destaques ficaram por conta do "Batuta" Silva e o grande goleiro argentino Andrada, que pelo que realizou na sua passagem no clube de 1969 a 1976 se constituiu num dos maiores goleiros que já defendeu o arco do Vasco. Cruelmente, a história lhe reservou a dúbia honra de ter tomado o milésimo gol de Pelé.

Pelé e o Vasco

Numa partida no Maracanã contra o Santos pelo Torneio Roberto Gomes Pedrosa de 1969, Andrada fechava o gol, evitando em várias oportunidades o milésimo gol do Rei. O escore de 1 a 1 foi mantido até quase o final da partida, quando aconteceu um pênalti sobre Pelé, e assim Andrada foi finalmente batido pela cobrança do próprio Pelé. O goleiro saltou para o canto certo e por milímetros não conseguiu desviar a bola. A partida foi interrompida para que homenagens pudessem ser prestadas a Pelé, que deu uma volta olímpica no estádio vestindo uma camisa do Vasco com o número 1000 nas costas.

E por falar no maior jogador de todos os tempos, abra-se um parêntese. Pelé nunca escondeu sua simpatia pelo Vasco, tendo sido um torcedor vascaíno durante a sua infância em Bauru. Quis o destino que Ele vestisse a camisa do Vasco no início da sua carreira, em junho de 1957, em três partidas no Maracanã, e melhor ainda, que marcasse um gol no Flamengo. Naquela ocasião, um combinado Vasco-Santos disputava um torneio amistoso internacional com partidas no Rio e em São Paulo. Este torneio acabou suspenso devido aos prejuízos financeiros. O Combinado Vasco-Santos atuou quatro vezes, as três primeiras no Rio com o uniforme do Vasco e a última em São Paulo com o uniforme do Santos. Na estreia, Pelé marcou três gols na vitória por 6 a 1 contra o Belenenses. A seguir, dois empates, contra o Dínamo Zagreb e Flamengo, ambos pela contagem de 1 a 1, e em ambas as oportunidades Pelé marcou para o Combinado. Na última partida, em São Paulo, o Combinado voltou a empatar por 1 a 1, desta feita contra o São Paulo, marcando novamente Pelé.

As atuações de Pelé pelo Combinado Vasco-Santos foram fundamentais para que o então técnico da seleção brasileira, Sílvio Pirilo, decidisse convocá-lo para uma partida do Brasil contra a Argentina, no Maracana, dia 7 de julho de 1957. Foi a estreia do futuro Rei na seleção, aos 16 anos de idade. Ele entrou no segundo tempo no lugar de Del Vecchio e marcou o seu primeiro tento com a camisa canarinho. Mesmo perdendo por 2 a 1, o time brasileiro foi elogiado, e a presença de Pelé foi aclamada.