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Rafael Moreira Fabro

O 2000 vascaíno - uma obra de referência

Fará amanhã exatamente um mês de tudo que ocorreu no estádio de São Januário. Esperava eu que ao fim daquela tarde já tivesse inspirações saltando não se sabe muito bem de onde para escrever sobre os fortúnios cruzmaltinos. Não pude. Invés disso, passaram-se trinta longos dias abarcando todo o tipo de frases, discursos, maifestos e opiniões contra ou a favor de muita coisa. E eu lá sem saber muito bem o que dizer.

Não falo só do que aconteceu sobre a tarde do dia 30 de dezembro de 2000. Falo sobre tudo o que aconteceu a partir dali. Um caminhão atropelando todo o arsenal de sentidos e códigos era a resposta, pelo menos para mim. Nos bares da vida, conversava com amigos e, claro, tinha opiniões muito bem estruturadas que, de uma forma ou de outra, levavam ao fim claro de que a instituição vascaína estava sendo vítima de uma campanha feroz por parte de um bom número de órgãos de imprensa. Falei de tudo: Eurico, Romário, Juninhos, São Caetano, Globo, Xuxa, incêndio, SBT, alambrado, enfim. Mas hoje posso dizer que o que ficou na minha memória foi a minha vibração incontida ao sair do Maracanã na tarde de 18 de janeiro de 2001 tetracampeão brasileiro. Não precisava mais participar de enquetes, formar opiniões sobre artigos de regulamento, contra-argumentar em mesas de botecos. Sentia-me campeão de corpo e alma, levado à euforia e podia sentir um traço de missão cumprida naquele escoar da multidão ao sair do estádio. Os heróis, todos nós, voltávamos para casa (ou íamos aos bares) cheios de júbilo, cantando a vitória da guerra depois de batalhas que pareciam intermináveis. Iríamos dormir o sono dos justos. Estávamos em êxtase.

A resposta para todas as questões estava no rosto de todos. Parecia não ser uma conquista como outra qualquer, de tantas que o Vasco já viu nesses últimos anos. As feições eram diferentes. Eram expressões de orgulho. Orgulho de poder dar à alma o sentido, o bálsamo que só o título dá. Bálsamo para feridas pungentes que se estocaram no decorrer do ano.

"A derrota tem um dramatismo que a salva, que a viriliza. Ela desperta no vencido o elán da revanche. Toda grande vitória é anterior a si mesma. Começa quarenta anos antes do Paraíso, quarenta anos antes do Nada e vem desabrochar em nossos dias. Desculpe mencionar o óbvio, mas aguarde pela redenção, que está próxima."

Nelson nunca foi tão profético. Numa crônica que escrevi nesse cantinho tão agradável que é a NetVasco, datada de 07/11/2000, entreouvia-se numa conversa rodrigueana o lamento de um vascaíno depois da derrota para o eterno rival por quatro tenebrosos tentos. Dilacerava-me com aquela derrota e me perguntava se havia razão para prosseguir na tormenta de torcer depois de tudo que passara. Apegar-me a Nelson e seus ensejos foi uma das razões para continuar acreditando. Apeguei-me a todos os ensinamentos que os grandes estádios e craques me deram ao longo da vida. Continuei bradando pelo Vasco. E a profecia se consumou como nos tempos bíblicos. A redenção nunca esteve tão próxima e parecia tão longe ao fim daquele jogo desastroso no Maracanã. O apito final daquela peleja que poderia vir a ser uma ferida grave e ululante trazia contornos fúnebres que traziam cheiros de finais perdidas, campeonatos jogados à lama, gritos vãos e torcedores em estado deplorável. Mas tal qual nos contos fantásticos em que o herói ressurge, o Vasco assim o fez. Assumiu sua verdadeira essência: a da reação. Reagiu como no cântico da virada. Reagiu como nos episódios preconceituosos da década de 20. Reagiu heroicamente a vilanias e perseguições.

Por isso vos digo: quem viveu o Vasco em 2000, quem respirou seus ares, seus azares e sortes pode de agora em diante fazer desse livro de marcas inesquecíveis uma obra de referência para todo o sempre. Assim como se consultam dicionários em busca do sentido para a palavra desconhecida, poder-se-á procurar todo o tipo de sentido ali no ano de 2000. Tudo que se quiser entender das angústias do torcedor, das suas vitórias e fracassos, estará a ferro e fogo estampado no livro cruzmaltino do fim do segundo milênio.

 

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